A vida é feita de muitos
momentos, mas existem alguns momentos mágicos que, por si só, valem uma
encarnação inteira. Ontem, eu vivi um momento mágico que, com toda certeza,
será guardado para sempre no mais profundo da minha alma, como um tesouro de inestimável
valor. Eis o que aconteceu...
Ontem, como sempre faço duas ou
três vezes por mês, eu fui fazer compras em um supermercado perto da minha
casa. Fiz uma compra volumosa e saí pela porta automática em direção ao meu
carro, estacionado a algumas dezenas de metros, em um canto do estacionamento.
De longe, eu vi três vultos sentados no chão, bem ao lado do meu carro. Ao
aproximar-me mais um pouco, distingui nitidamente uma velhinha, perto dos seus
quarenta anos (áh, a dureza da vida!), um rapazinho, nos seus seis ou sete anos
(na verdade tinha onze, como constatei mais tarde) e uma menininha dos seus
quatro ou cinco anos, com um cabelinho tão volumoso e desgrenhado (que eu acho
que nunca foi cortado ou penteado), que o seu rostinho quase sumia num mar
revolto de fios entrelaçados.
Tentei lembrar-me, nestes dias de
império do cartão de crédito, se havia alguma nota esquecida em minha carteira,
quando ao chegar a apenas alguns poucos metros desta trupe de “Os Sertões”, já
aguardando o inevitável pedido, fui surpreendido pelo mais exótico sorriso que
eu já colhi na minha vida (eu jamais desperdiço um sorriso!): Ihhh, doutô! Eu
só queria um dia nesta vida, uma vezinha só, entrar neste baita mercadão e
enchê o meu carrinho de tudo que eu queria, assim, ingalzinho o senhô; Rá, Rá, Rá!
Que grande surpresa receber,
quando já se está preparado para dar! Nenhum pedido foi feito, apenas um real e
sincero sorriso sem dentes. Um sorriso longo o suficiente para avivar-me todos
os sentidos... um sorriso de alma. Neste momento o tempo parou. Eu fiquei
paralisado, não pelo sorriso ligeiramente disforme, devido ao vácuo entre os
dentes da frente, mas pela profundidade do olhar, do amor inocente que dele
saía e vaporizava um incipiente complexo de culpa.
Depois de certo tempo de um
momento congelado, acordei e disse: Pois é assim? Então a senhora venha comigo,
pois o seu desejo vai ser realizado! Gritou a minha alma, antes que o ego
pudesse dar qualquer palpite.
Eu não me lembro da duração do
tempo maravilhoso que passamos dentro do supermercado, flutuando entre longos
corredores, como em um sonho bom... A Josefa com o seu sorriso congelado no
rosto e eu empurrando, como um alegre zumbi, um enorme carrinho, cada vez mais
cheio e pesado. Mesmo hipnotizado pelo momento sublime, não pude deixar de
registrar também a alegria, quase palpável, que exalava dos coraçãozinhos dos dois
serafins que, com certa dificuldade, empurravam juntos um carrinho menor, cada
vez mais cheio de biscoitos, balas, chocolates e muitas outras guloseimas, tão
presentes em sonhos infantis, os quais eram obrigados a esquecer, logo pela
manhã, devido à triste sina da maioria das crianças brasileiras... Não desta
vez! Avisou-me uma lágrima descuidada, logo contida, para não quebrar a magia
do momento.
Como todo momento, este, mesmo tão
especial, também passou. Mas deixou marcado, sei que para sempre, o meu coração...
Eu jamais serei a mesma pessoa depois deste momento maravilhoso. Já a Josefa, o
Pedrinho e a Lucinha, acho eu, descobriram que sonhos, às vezes, se realizam...
Sorria! – O Sorriso iguala as
pessoas.
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