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SOBRE A FELICIDADE

Tu que buscas com tanto afinco a felicidade, escuta o que eu tenho a te dizer. Este pássaro que voa tão alto, e que as vezes pousa no teu ...

sábado, 12 de junho de 2021

UM SORRISO SEM DENTE

 

A vida é feita de muitos momentos, mas existem alguns momentos mágicos que, por si só, valem uma encarnação inteira. Ontem, eu vivi um momento mágico que, com toda certeza, será guardado para sempre no mais profundo da minha alma, como um tesouro de inestimável valor. Eis o que aconteceu... 

Ontem, como sempre faço duas ou três vezes por mês, eu fui fazer compras em um supermercado perto da minha casa. Fiz uma compra volumosa e saí pela porta automática em direção ao meu carro, estacionado a algumas dezenas de metros, em um canto do estacionamento. De longe, eu vi três vultos sentados no chão, bem ao lado do meu carro. Ao aproximar-me mais um pouco, distingui nitidamente uma velhinha, perto dos seus quarenta anos (áh, a dureza da vida!), um rapazinho, nos seus seis ou sete anos (na verdade tinha onze, como constatei mais tarde) e uma menininha dos seus quatro ou cinco anos, com um cabelinho tão volumoso e desgrenhado (que eu acho que nunca foi cortado ou penteado), que o seu rostinho quase sumia num mar revolto de fios entrelaçados.

Tentei lembrar-me, nestes dias de império do cartão de crédito, se havia alguma nota esquecida em minha carteira, quando ao chegar a apenas alguns poucos metros desta trupe de “Os Sertões”, já aguardando o inevitável pedido, fui surpreendido pelo mais exótico sorriso que eu já colhi na minha vida (eu jamais desperdiço um sorriso!): Ihhh, doutô! Eu só queria um dia nesta vida, uma vezinha só, entrar neste baita mercadão e enchê o meu carrinho de tudo que eu queria, assim, ingalzinho o senhô; Rá, Rá, Rá!

Que grande surpresa receber, quando já se está preparado para dar! Nenhum pedido foi feito, apenas um real e sincero sorriso sem dentes. Um sorriso longo o suficiente para avivar-me todos os sentidos... um sorriso de alma. Neste momento o tempo parou. Eu fiquei paralisado, não pelo sorriso ligeiramente disforme, devido ao vácuo entre os dentes da frente, mas pela profundidade do olhar, do amor inocente que dele saía e vaporizava um incipiente complexo de culpa.

Depois de certo tempo de um momento congelado, acordei e disse: Pois é assim? Então a senhora venha comigo, pois o seu desejo vai ser realizado! Gritou a minha alma, antes que o ego pudesse dar qualquer palpite.

Eu não me lembro da duração do tempo maravilhoso que passamos dentro do supermercado, flutuando entre longos corredores, como em um sonho bom... A Josefa com o seu sorriso congelado no rosto e eu empurrando, como um alegre zumbi, um enorme carrinho, cada vez mais cheio e pesado. Mesmo hipnotizado pelo momento sublime, não pude deixar de registrar também a alegria, quase palpável, que exalava dos coraçãozinhos dos dois serafins que, com certa dificuldade, empurravam juntos um carrinho menor, cada vez mais cheio de biscoitos, balas, chocolates e muitas outras guloseimas, tão presentes em sonhos infantis, os quais eram obrigados a esquecer, logo pela manhã, devido à triste sina da maioria das crianças brasileiras... Não desta vez! Avisou-me uma lágrima descuidada, logo contida, para não quebrar a magia do momento.

Como todo momento, este, mesmo tão especial, também passou. Mas deixou marcado, sei que para sempre, o meu coração... Eu jamais serei a mesma pessoa depois deste momento maravilhoso. Já a Josefa, o Pedrinho e a Lucinha, acho eu, descobriram que sonhos, às vezes, se realizam...

 

Sorria! – O Sorriso iguala as pessoas.

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