Hoje, na minha caminhada matinal,
a vida me presenteou com mais uma oportunidade de servir. Muitos pensam que a
caridade é apenas uma virtude do ego, mas ela é muito mais do que isto... é uma
necessidade da alma. Cada oportunidade para ajudar perdida pelo homem é mais
uma lágrima de dor somada ao sofrimento do mundo, pois o que acontece a um
homem é partilhado por toda Humanidade, da qual ele é apenas uma célula
componente. “Nenhum homem vive apenas para si” – Bíblia Sagrada.
Pois bem, após uns vinte minutos
de caminhada, eu enxerguei de longe um vulto cabisbaixo caminhando em minha
direção. Ao nos aproximarmos, como é o meu costume, lancei a esta triste figura
um sonoro “Bom Dia” com toda a intenção da minha alma (a intenção da alma
sempre traz energias positivas em seu bojo), o que fez com que ele levantasse a
cabeça e me encarasse. Olhos nos olhos, eu abri a porta do meu coração e sorri,
o que foi imediatamente correspondido por um sorriso triste. Como sabem todos
aqueles acostumados a amar, os olhos são a janela da alma, mas é o sorriso a
porta aberta para o encontro... E assim nós nos reencontramos.
Alessandro é um dos muitos filhos
de uma beneficiada pelo “Projeto Trabalho e Dignidade” (um projeto social de
ajuda a pessoas carentes e desempregadas em Carmo da Cachoeira) que, assim como
os filhos de outras beneficiadas, iam agarrados às saias das suas mães, quando
elas iam trocar os seus Volus (moeda alternativa), todas as sextas-feiras, no
mercadinho pertencente ao projeto. Lembrei-me dele junto ao resto da meninada,
aguardando impacientes suas mães, que sempre saíam do mercadinho com algumas
guloseimas para seus filhinhos.
Alessandro (nome de rico,
bastante contrastante com a figura pobre e desgastada à minha frente) contou-me
que a sua mãe havia falecido há pouco mais de dez anos e que a família tinha se
separado sem seu amálgama principal, já que o seu pai, devido à doença do
alcoolismo, era apenas mais uma boca faminta para ser alimentada.
Perguntei-lhe (ele é agora um
homem na faixa dos trinta anos) o que andava fazendo na vida e se continuava
morando em Carmo. Respondeu-me que já há alguns anos tinha se mudado para
Varginha, uma cidade maior e com maiores possibilidades, embora agora se
encontrasse desempregado, devido à pandemia. Disse-me que se encaminhava para
arranjar uns trocados, como “chapa de caminhão”, carregando e descarregando
fardos, em uma distribuidora perto de onde estávamos. Perguntou-me se sabia de
uma ocupação mais segura, onde poderia arranjar alguma renda mais estável, para
ele e para a sua jovem esposa. Após pensar por um instante, com um pesar no
coração, respondi-lhe que não sabia de nada no momento. Como ele havia me
pedido um emprego e não algum dinheiro (jamais dou dinheiro a uma pessoa sem a
certeza de que ela não vai usá-lo para satisfazer algum vício; muitos, para se
afastarem o mais rapidamente de uma situação desagradável, causam mais mal do
que bem oferecendo dinheiro), perguntei-lhe se havia alguma outra forma de
ajudá-lo. Ele respondeu-me, que se tivesse um carrinho para recolher lixo
reciclável, ele e a esposa poderiam ganhar um dinheirinho mais estável, pois no
bairro onde moravam muitos sobreviviam honestamente desta útil tarefa.
Autorizei-o a mandar construir o carrinho no serralheiro e dei-lhe o número do
meu telefone celular, para me avisar quando ele ficasse pronto. Realizei assim,
como fiquei sabendo depois, o pedido da prece que ele fazia de cabeça baixa
quando nos reencontramos...
Sorria! – O Sorriso iguala as pessoas.