Durante a maior parte da minha
vida eu trabalhei e vivi como um profissional do esporte. Fui preparador físico
de futebol, com relativo sucesso, trabalhando em grandes equipes do futebol
brasileiro e de algumas equipes internacionais. Cheguei a ser preparador físico
de seleções como as do Brasil e do Qatar. Isto me permitiu aposentar-me no
ápice da minha carreira, aos quarenta e dois anos (uma grande “loucura” para a
grande maioria das pessoas), para dedicar-me a coisas que achava mais relevantes
do que os ganhos materiais: os ganhos espirituais. Hoje sou um feliz
“aposentado” de sessenta e dois anos, que procura gastar o seu tempo nas coisas
espirituais e no bem coletivo.
Aproveitando este momento de
crise mundial (quando somos obrigados a nos recolher em nossas casas, longe das
loucas correrias do mundo), com tempo suficiente para nos recolher em nós
mesmos e reavaliarmos nossos valores, gostaria de apresentar-lhes aqui - para
vossas reflexões - o que me levou a abandonar um salário de três dígitos e um
status profissional e social tão almejado pela maioria dos homens.
Em primeiro lugar deixem-me
explicar o que eu penso ser o verdadeiro sentido do esporte, tão equivocadamente
usado, ou mesmo malevolamente manipulado, por pessoas, com um único intento
comercial, ao contrário do seu correto uso. O verdadeiro esporte visa não só o
benefício individual, mas também coletivo em prol de uma sociedade mais
saudável, física e psicologicamente, como nos ensina o milenar e já quase
esquecido lema: “Mens Sana In Corpore
Sano”.
O esporte foi criado há alguns
milhares de anos pela Hierarquia Espiritual que, preocupada com a saúde da
humanidade de então, inspirou a necessidade da atividade física e dos jogos
esportivos para a saúde do corpo físico, assim como para estimular a cooperação
e o companheirismo, tão necessários à saúde social. Na minha opinião são estes
os verdadeiros objetivos que deveriam nortear o esporte. Foi o esquecimento
destes princípios no esporte moderno, em prol dos lucros financeiros, que me
fez desiludir da carreira que havia abraçado com tanto idealismo.
Eis agora as reflexões que
proponho neste período de quarentena, quando foram paralisadas todas as
competições esportivas e o silêncio dos constantes apelos emocionais nos
convida a refletir sobre os nossos valores:
É correto uma humanidade tão
desigual, onde mais da metade da população mundial vive em condições de pobreza
ou absoluta miséria, que aceitemos pagar salários tão desproporcionais e
escandalosamente aviltantes a atletas e membros de comissões técnicas, muitos
deles péssimos exemplos à juventude (o que não nos impede de os tratarmos como
heróis)? Se não achamos isto correto, porque por apenas fugazes momentos de
emoção continuamos a sustentar uma indústria onde o desperdício, a vaidade e a corrupção
são tônicas diárias? O verdadeiro valor do esporte está no melhoramento e no
engrandecimento do corpo etérico-físico, não no engrandecimento do corpo
emocional, que de tão grande e robusto na humanidade atual domina o corpo
mental, ao qual deveria estar subordinado. O maior valor do esporte está em
pratica-lo, não em assisti-lo passivamente deitado no sofá em frente à
televisão, ou assentado em meio a multidões em orgias emocionais, que muitas
vezes transformam-se em alucinadas selvagerias.
É correto chamar de esporte
violentas lutas, dignas dos antigos anfiteatros romanos e nos deleitamos com
cenas de agressividade e selvageria, que sempre levam a lesões, muitas vezes
sérias ou até mesmo à morte? Como pode a sociedade aceitar que seja exibido na
televisão estes verdadeiros shows de horror, para a deseducação dos nossos
jovens e crianças? Como explicar aos nossos filhos que a violência é errada,
quando assistimos empolgados, muitas vezes junto a eles, estes campeonatos de
idiotice?
É correto chamarmos de esporte
estes campeonatos de “esportes virtuais”, onde “atletas” magrelos ou obesos,
desenergizados pela falta de sol e de atividade física, incentivados por altos
salários, queimam seus neurônios sem uma gota de suor? Eu não sou contra jogos
de computador ou de tabuleiros, apenas friso que são apenas jogos, não
esportes, e só os condeno quando roubam tempo a saudáveis atividades físicas.
O esporte foi criado para ajudar
as pessoas, para melhorar o indivíduo e a sociedade! Será que vale a pena nós
gastarmos nossa atenção, nossa energia e nosso dinheiro em psêudo-esportes, que
dividem em vez de somar? Que levam a vícios em vez de virtudes? Que levam à
violência em vez paz e harmonia?
Que novos valores surjam do caos
e sofrimento desta terrível prova que hora abruma a humanidade!
Sorria! - O Sorriso iguala as pessoas.
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