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SOBRE A FELICIDADE

Tu que buscas com tanto afinco a felicidade, escuta o que eu tenho a te dizer. Este pássaro que voa tão alto, e que as vezes pousa no teu ...

sábado, 7 de setembro de 2024

ZÉ VITOR

 


O problema maior do homem é que ele não sofre apenas por coisas que ele realmente deveria sofrer, mas sofre também, muito desnecessariamente, por coisas pelas quais não deveria sofrer. O poder de imaginação do homem é um dom muito benéfico, mas muitas vezes é muito mal-usado, como, por exemplo, na criação de ilusões e erros maiores ou menores, além de coisas completamente fora da realidade. Muita energia é assim desperdiçada, sem trazer benefício algum. Vejamos um bom exemplo disso:

Hoje, no meio da minha cotidiana caminhada matinal, eu encontrei o Zé Vitor (descobri hoje o seu nome). Ele vinha empurrando, ladeira acima, o seu carrinho de mão cheio de lixo reciclável. Ao vê-lo parado no meio da subida – para descansar um pouco e tomar um fôlego – acelerei o passo para encontrá-lo e assim ajudá-lo no resto da ladeira. Neste espaço de tempo – antes de chegar junto a ele – vinha pensando em como devia ser difícil a sua vida, como o mundo era injusto, etc. etc.

Ao parear-me com ele, perguntei-lhe se aceitaria uma ajuda para chegar ao fim da penosa subida. Ele sorrindo, olhando-me nos olhos, disse-me que já estava acostumado e que não precisava de ajuda; que todos os dias ele fazia o mesmo percurso, para entregar a sua mercadoria no depósito de lixo reciclável do bairro e ganhar o seu muito suado dinheirinho. Como eu insisti muito, ele permitiu-me a ajuda.

Acontece que, ao iniciarmos a nossa caminhada, surgiu uma boa prosa. Por isso, percorremos juntos um trecho mais longo do caminho, dividindo o peso do carrinho, o que permitiu-me saber um pouco mais da vida deste “pobre e miserável” irmão; assim pensava eu... Na verdade, a pobreza é coisa de Deus, pois ela traz muitos ensinamentos, assim como a riqueza, mas a miséria e coisa dos homens: Como vamos ver mais adiante, a miséria anterior do Zé Vitor era uma má opção feita por ele mesmo. Seguimos caminhando e o Zé Vitor foi, aos poucos, abrindo o seu coração e me contando um pouco da sua vida, de como amava o seu carrinho e de como este “burrinho de madeira” tinha salvado a sua vida.

Disse-me ele, que há uns vinte anos atrás a sua vida era muito diferente. Contou-me que era um alcoólatra, que batia muito na esposa e nos filhos, que gastava quase tudo que ganhava com os seus “bicos” em bebida, que era muito infeliz e que também fazia muito infeliz a sua família.

Contou-me que um dia, quando estava prostrado à porta do barraco, curtindo uma tremenda ressaca, um vizinho da rua de cima o abordou e lhe propôs a doação de um velho carrinho de madeira reserva (o carrinho atual, várias vezes reformado), que possuía no quintal da sua casa. Contou-lhe que dava para tirar um “bom dinheirinho” catando lixo reciclável e vendê-lo no depósito perto de casa. Como já estava cansado demais da sua vida infeliz, resolveu aproveitar a oportunidade que a vida lhe oferecia.

Resumindo: após estes poucos mais de vinte anos empurrando o seu carrinho, ele conseguiu criar os filhos, melhorar a sua vida e a da sua mulher e se acha um privilegiado por ter uma vida tão boa. Que se não fosse a caridade e a preocupação do seu vizinho e a ajuda de Deus... e do carrinho, ele provavelmente já estaria morto e a sua família espalhada pelas ruas, assim como tantas neste nosso “mundão de Deus”. Ah, e ele ainda me disse, que por causa do exercício diário, empurrando o carrinho, ele hoje é mais forte e mais saudável do que era há vinte anos, quando vivia “garrado na maldita pinga”, sempre se sentindo fraco, por não dormir e nem se alimentar direito.

Nós, erradamente, julgamos os outros e as situações em que foram colocados pelo Carma, de acordo com a nossa próprio opinião, com o nosso parco discernimento e as nossas próprias vivências, achando que o que é bom e correto para nós, também o será para o outro; assim como aquilo que é ruim e negativo para nós, certamente também o será para o outro. Com os poucos subsídios e informações que temos, julgamos os outros de acordo com aquilo que imaginamos deles, o que na maioria das vezes estará errado, pois cada um tem o seu Dharma (objetivos da Alma para cada determinada encarnação) e procura cumpri-lo da melhor forma possível, não da forma ideal, devido aos seus próprios erros, falhas e idiossincrasias – limitações de todos os seres humanos, ainda imperfeitos e em evolução.

Imaginemos menos e amemos mais, confiando sempre na Justiça e no Amor do nosso Paizão Maior.

 

Sorria! – O Sorriso iguala as pessoas.

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