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SOBRE A FELICIDADE

Tu que buscas com tanto afinco a felicidade, escuta o que eu tenho a te dizer. Este pássaro que voa tão alto, e que as vezes pousa no teu ...

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

REBARBA DE NATAL

 

Domingo de natal. Quatro horas da tarde, um calor escaldante em Rio Pomba, terra da minha sogra, onde vim passar as festas de Natal, junto à família da minha esposa. Após acordar de um gostoso cochilo, proporcionado por um lauto almoço, precedido por várias garrafas verdes da minha cerveja preferida, acordei meio combalido pelos excessos dos últimos dias, com uma vontade danada de mergulhar num balde de sorvete. No silêncio da casa vazia, adormecida pelos licores natalinos, vesti meu calção, coloquei meus tênis e saí sem fazer barulho. Bem desacostumado de passeios sobre duas rodas, peguei a bicicleta nova do meu cunhado, estacionada no portão da frente, e rumei para a sorveteria na praça central.

Estacionei a bicicleta na entrada da sorveteria, tossi algumas vezes para acordar um velho senhor que, assustado com a quebra do silêncio da cidade entorpecida, olhou-me meio atravessado, pela importunação do seu cochilo. Pedi o maior vasilhame para sorvete a quilo e, sem muita preocupação com sabores, enchi-o com uma dúzia de bolas de várias cores diferentes.

Sentei-me o mais confortavelmente possível numa esquelética cadeira de plástico, abstendo-me de esticar as pernas em outra, achando que não valia a pena tamanho risco. Comecei então a realizar o sonho de alguns momentos atrás. Alguns prazerosos instantes depois, a atenção à bela empreitada que me propus foi quebrada por um nhéc, nhéc bastante incômodo, de um grotesco quadro de duas crianças molambentas, entre oito e dez anos, montando uma surrada e exausta bicicletinha infantil, que cuidadosamente estacionaram junto à minha.

Bastantes tímidos, adentraram à sonolenta sorveteria, observaram por vários minutos algumas prateleiras abarrotadas de saquinhos coloridos, uma sequência de três grandes freezers, abarrotados com potes de sorvetes e agora com a coragem um pouco mais crescida, arriscaram:

- Moço o que o senhor tem aí que dá pra comprar com 1,50?

- Aqui a gente não tem nada com este preço!

- Nem um copo d’água?

- A água eu dou de graça! E, talvez um pouco movido pela situação, disse sem muita convicção: Leva este saquinho aqui de dois reais, por 1,50.

Saindo um pouco da minha letargia e com o coração adoçado por centenas de gramas de açúcar refinado, disse de supetão: Vocês não sabem que dia é hoje, não? E, tendo um não como resposta, emendei: Hoje é rebarba de Natal! E, calmamente, com estudada seriedade, comecei a explicara importância da data: Assim como tem a véspera de Natal todo ano, de sete em sete anos, quando o dia vinte e seis de dezembro cai num domingo, é rebarba de Natal. Neste dia, quando a gente entra numa sorveteria, a gente pode pedir tudo o que quiser e comer o tanto que aguentar. Num é mesmo meu senhor? Procurei apoio com o dono do estabelecimento. Meio desconfiado, o velho só ajudou com umas tímidas balançadas de cabeça. Pois então, mandem brasa que esse dia é só de sete em sete anos, exclamei para dois rostinhos pasmos, quase não acreditando no que ouviam.

Depois de um certo tempo, que não dá pra lembrar quanto (pois de vez em quando ele costuma passar devagar...quase parando), os meninos completamente saciados, se dirigiram para o velho dono, agora um pouco mais sorridente pelo inesperado movimento: Muito obrigado seu moço! O velho senhor, agora mais amaciado, tentou dizer: Vocês tem que agradecer é a... Jesus Cristo – gritei a tempo. Natal é aniversário de Jesus Cristo, embora a maioria ache que é o aniversário do Papai Noel.

Felicíssimos os dois meninos saíram para pegar a sua cansada bicicletinha, quando eu gritei lá do meu canto: Ôh, meninos, que dia é hoje? – Hoje é rebarba de Natal, responderam em uníssimo. – Pois então, leva esta bicicletona aí do lado! – Mas... E antes que completassem eu disse: Pode! Hoje é aniversário de Jesus... hoje é rebarba de Natal.

Depois eu resolvo com o meu cunhado.

 

Sorria! – O Sorriso iguala as pessoas.


2 comentários:

  1. Quero recebê-lo em minha casa mas não lhe empresto a minha bicicleta.

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  2. Soube que estão novamente em Rio Pomba. Pena não estarmos em Minas. Gostaria de vê-los, mas ainda sem a tal bicicleta

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